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Martim Francisco Ribeiro de Andrada

1º de dezembro, 1951. Bernardino de Campos, São Paulo. Um dia muito especial para o ferroviário João Carrasco Netto e sua mulher Ângela: nasceu Walcyr, o caçula da família. O irmão de Airton, quatro anos mais velho. Três anos se passam e a família muda-se para Marília, onde Walcyr morou até os 15 anos e fez o primeiro e segundo graus.

 

A infância correu tranquila, sem sobressaltos. O pai trabalhava na extinta Estrada de Ferro Sorocabana e a mãe no pequeno bazar que tinha na frente da casa ou vendendo roupas. E o menino se deliciava com os quitutes de vovó Rosa (em especial o pudim de leite com queijo parmesão assado) e da mãe Ângela, como revela em suas crônicas “Arroz Doce” (Veja São Paulo, 14/5/2003) e “Bolinhos de Chuva” (Veja São Paulo, 16/5/2007). Talvez esteja aí a origem de sua paixão pela culinária – hoje Walcyr adora convidar os amigos para saborear alguma delícia preparada especialmente por ele.

 

Quando tinha 12 anos, Walcyr perdeu o posto de caçula para seu irmão Claudiney. Foi uma grande alegria, pois sempre quis ter um irmãozinho. Foi também uma época de muitas descobertas: pintura, marcenaria, como preparar bananas com chocolate – práticas que cultiva até hoje, embora não tanto quanto gostaria. E Monteiro Lobato – cujos livros emprestava da amiga Heloísa Peregrino, que tinha uma coleção encadernada. O fascínio por Monteiro Lobato foi o grande responsável por seu desejo de tornar-se escritor.

 

No ginásio, no Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, em Marília, descobriu nas aulas da professora de Ciências, dona Thelma – de quem fala com muito carinho em “A Visita” (Veja São Paulo, 2/6/2010) -, a Teoria da Evolução e também Fernando Pessoa.

 

A adolescência chega trazendo novas perspectivas. Aos 17 anos Walcyr se aventura na carreira de ator chegando a trabalhar em montagens profissionais como Os Gigantes da Montanha (dirigida por Federico Pietrabruna e protagonizada por Cleyde Yáconis) e Romeu e Julieta, com Regina Duarte e dirigida por Jô Soares. Os papéis eram pequenos, é verdade, mas o amor pelo teatro já era evidente.

 

Uma janela para o mundo. Foi no Colégio da Aplicação da USP, em sua fase áurea, que Walcyr entrou em contato com tudo que havia de mais moderno: Sartre e o Existencialismo, os movimentos culturais, os grupos de esquerda, o teatro de José Celso – assistiu à primeira montagem de O Rei da Vela, peça escrita por Oswald de Andrade na década de 30 que só foi montada em 1968 e um marco na dramaturgia brasileira.

 

Enfim, um universitário. A primeira escolha foi a Faculdade de História, na USP. Mas os tempos eram bicudos e o curso sofria com a perseguição a professores, muitos deles sendo presos ou exilados. Após dois anos, Walcyr partiu para o curso de jornalismo na ECA. Logo começou a trabalhar na área.

 

Atuou como jornalista nos principais órgãos de imprensa do país (revistas Veja e IstoÉ e nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Diário Popular), ao mesmo tempo em que iniciava a carreira de escritor com histórias para a revista infantil Recreio. Toda essa experiência de repórter ele levou para seus livros, em especial os infantojuvenis. Sempre com o olhar atento à realidade, muitas de suas obras tratam de temas polêmicos como inclusão social, bulying, diferenças. Mas revelam também o lado espiritual do autor.

 

Em suas crônicas, ele fala de coisas do cotidiano – como a relação de dependência que as pessoas têm do celular e os maus hábitos advindos disso, a dificuldade em acertar o presente de dia das mães (na divertida “Mãe É Mãe”, publicada na Veja São Paulo de 12 de maio de 1993) -, e também de fatos e pessoas importantes em sua vida como a mãe (na comovente “Coração de Cristal”, publicada na Veja São Paulo 4 de novembro de 2009), o pai (“Meu Pai, o Homem que Torcia por Mim”, publicada no livro Pequenos Delitos) e a amizade entre ele e seu cão no livro Anjo de Quatro Patas.

 

Walcyr acredita que a missão de todo mundo é ser o que tem vontade de ser. “Muitas pessoas têm medo de arriscar, de lutar pelo que realmente desejam. Eu queria ser escritor e, nesse sentido, escrever é uma missão. Mas uma missão que me dá muito prazer!”, diz ele.

 

Missão que implica trabalho duro – ele escreve cinco horas por dia -, introspeção e até solidão: “Quando alguém me procura dizendo que quer ser escritor, eu sempre lembro que a parte do glamour é a menor de todas. Quem escreve tem que batalhar muito, lutar por seus projetos, escrever e reescrever, o que demanda tempo e paciência. Mas, acima de tudo, é um trabalho de um diálogo íntimo consigo mesmo, o que implica solidão. E isso também significa deixar aspectos da vida social e até mesmo afetiva de lado. Mas eu adoro a solidão. Sou capaz de ficar três, quatro dias sem sair de casa”, completa.

 

É desse trabalho duro e solitário que surgem as histórias – não importa se longas ou curtas, se teatro, literatura ou novela – pelas quais Walcyr se encanta. Sempre cheias de humor, mesmo quando trágicas. E, claro, as personagens que se tornam tão presentes que o acompanham nos passeios, nas refeições e até “discutem” com ele que nome querem ter.

 

Teatro, sempre o teatro. Já com livros publicados, ele retoma os planos de interpretar. Por volta dos 20, 30 anos, participa de um grupo de teatro que só apresentava espetáculos de cunho político na periferia, em igrejas e comunidades de bairro no qual era autor, ator, diretor – em conjunto com os demais membros do grupo. Escrever para teatro foi decorrência. O primeiro texto seu a ganhar os palcos foi a comédia de costumes O Terceiro Beijo, com Nicole Puzzi. Depois vieram Uma Cama entre Nós (com Matilde Mastrangi e direção de Jacques Lagoa); Até que o Sexo nos Separe (com Fúlvio Stefanini e direção de José Renato); Toalete (com Suzana Pires, Flávia Garrafa, Márcia Cabrita e direção de Cininha de Paula) e Rapunzel, seu maior sucesso no teatro infantil, montado quatro vezes.

 

Mas não bastava. Inquieto, achava que tinha que crescer como autor. E assim começou sua carreira de tradutor. É ele quem conta: “Tinha medo de estagnar e propus para a Editora FTD uma coleção de livros traduzidos, que começou com Os Miseráveis. Minha intenção era me aprofundar em um grande autor, descobrir sua estrutura como escritor, entender a obra. Meu primeiro livro foi Os Miseráveis, de Victor Hugo. E até hoje acho magnífica a experiência de conviver com um grande autor. Atualmente pretendo traduzir Romeu e Julieta, de Shakespeare”.

 

A dedicação ao ofício de escrever e o talento de Walcyr – mesmo com 5 milhões de exemplares vendidos, a cada novo texto o inevitável frio na barriga aparece – não podiam levar a outro caminho que não o do reconhecimento e o dos prêmios. Os Miseráveis (tradução/adaptação), A Palavra Não Dita e Em Busca de um Sonho têm menção de Altamente Recomendável do Instituto Nacional de Literatura Infantil e Juvenil. A peça Êxtase (com Caco Ciocler, Daniel de Oliveira e Rosane Gofman), que já teve também outras duas montagens, lhe valeu o Prêmio Shell de Melhor Autor. E é também o titular da cadeira número 14 na Academia Paulista de Letras.

 

A mesma inquietude que levou Walcyr ao universo da tradução, também o levou a outra empreitada. Embora já escrevesse livros infantojuvenis e para teatro, começou a apresentar projetos para TV. Na ocasião, a atriz Regina Duarte fazia um programa independente, Joana, e lhe deu a primeira oportunidade. Pronto. Era a vez da telinha. E mais sucessos: Caras & Bocas, Se7e Pecados, Chocolate com Pimenta, Xica da Silva (Prêmio de Melhor Autor da Associação dos Radialistas) e Alma Gêmea (Prêmio Contigo).

 

Outra paixão. “Sou guloso!”, diz ele. O gosto pela culinária é fruto do “apreço” de Walcyr por comer bem. Ele adora comida caseira: doces em calda, bolos tradicionais e todos aqueles quitutes que sua avó e mãe preparavam tão bem. Quando foi morar sozinho, começou a inventar pratos e inventar alquimias culinárias. Depois vieram as receitas e também a chance de reunir os amigos em torno de uma boa mesa para bater papo e degustar um bom risoto, por exemplo. Hoje, além de ficar no Twitter, cozinhar é um de seus passatempos preferidos. E divertir-se com seus bichos de estimação – três cachorros e dois gatos.

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